segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

À flor da pele

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Aqui estou eu, mais uma vez sem saber o que fazer com o que não cabe em mim. Não sei o que é a escrita, mas sinto a escrita como se fosse a descoberta de um primeiro amor: às vezes fascinante, às vezes dolorosa, e agora a minha escrita se faz submersa em um silêncio sussurrante, como respiração pausada e ofegante.

Não sei onde estão os freios do meu pensar. Indomáveis sentimentos atravessam minha escrita, e denunciam a confusão do meu coração desobediente: insolente, desisti de dominá-lo.

Bebi o vinho do meu penar deliciosamente livre e despenquei de cabeça num rio novo, fresco, cristalino. Estou cansada e feliz, o vinho pesando nas pálpebras, as lembranças bem aqui dentro do peito, o ontem ainda se aconchegando em mim.

Foi quando eu falava de mim. Era uma noite clara, eu ainda guardada em mim. Eu havia me desapaixonado por todos. Eterna apaixonada que era, me desapaixonei pensando assim permanecer. Sondei o coração e ele não mais bombeava lágrimas. Mas eu ainda estava cheia de amor, porque o amor é meu. Como garrafa cheia de areia, onde ainda se pode pôr água até derramar.

E naquela noite clara eu não tinha mais medo, apenas degustava minha cautela. Eu estava livre, mas sabia que para ir a algum novo lugar era preciso que eu entendesse minhas próprias pernas, e os limites delas. Qualquer passo em falso causaria queda e dor.

Esperei dia bom, então caminhei: e andei sem medo, levada pela novidade. Acreditei em mim, pois ali era só eu e o mundo. Então o mundo me mostrou o novo e eu chorei lágrimas de alegria, emotiva que sou. Estranhei a confluência de sentimentos tão contraditórios, pois eu estava só mas tinha o novo, como isso era possível? Entendi então que o novo não precisava ser possível, pois, mesmo impossível, ele estaria ali.

Descobri que eu nunca mais seria a mesma. E descobri ainda mais, mas não sei expressar isso agora. Ou não quero, pois isso é meu. O amor é meu.
Tenho mesmo uma relação conturbada com esse treco gostoso e cortante que é o amor.

Escrevo, escrevo, e meu dilema permanece: O amor, claro, o sintoma mais óbvio. Se me curei dele? Dele quem? Do amor? Também persiste.
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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010