quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mar adentro


Sinto como se eu tivesse sido lançada ao mar.
Meu coração não é meu cais.
É mar revolto.
Em tempestade.
E eu não sei nadar.



Cais
(Milton Nascimento)

Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dualismo Corpo - Alma, segundo Descartes

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"E, embora talvez, eu tenha um corpo ao qual estou muito estreitamente conjugado, todavia, já que, de um lado, tenho uma idéia clara e distinta de mim mesmo, na medida em que sou apenas uma coisa pensante e inextensa, e que, de outro, tenho uma idéia distinta do corpo, na medida em que é apenas uma coisa extensa e que não pensa, é certo que este eu, isto é, minha alma, pela qual eu sou o que sou, é inteira e verdadeiramente distinta de meu corpo e que ela pode ser ou existir sem ele"
René Descartes

Um dos primeiros questionamentos referentes ao dualismo corpo - alma, ponto inicial da ideia de carater e personalidade do homem.
Tenho muito a estudar, aprender e pesquisar para a minha monografia II. Tenho que definir um tema ainda. Que dúvida!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Tropa 2

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Massa demais! Melhor que o primeiro.
Sou fã do Coronel Nascimento.
O cinema brasileiro está cada dia melhor.

Alguns diálogos precisam ficar registrados para sempre

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- Mamãe, eu não quero jantar. Quero tomar suquinho de chocolate.
- Não pode, meu amor. Suquinho só depois de jantar tudo.
- Ah, mamãe! Você vai ver, quando eu "ser" adolescente, eu só vou fazer o que eu quiser!
- ô meu bichinho, não é bem assim. Mas quando você for adolescente, você poderá fazer mais coisas que agora, desde que não sejam coisas erradas.
- E não me chama de bichinho!
- Porquê, você não gosta? É só uma maneira carinhosa da mamãe falar com você.
- É nada, eu não sou bicho. Então é uma maneira descarinhosa.
...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A fada do dente

Sexta-feira passada, caiu o primeiro dentinho do meu filho:

- Mamãe, mamãe, caiu o meu dentinho!
- Que bom, meu amor! Então vamos colocá-lo debaixo do seu travesseiro, para a fada do dente buscar!
- Mas mamãe, a fada do dente existe mesmo?
- Claro, meu bem!
- Como você sabe?
- Porque quando eu era pequenininha assim como você, e os meus dentinhos caíam, eu colocava todos eles debaixo do travesseiro e ela sempre vinha buscar.
- Nossa, mamãe. Então ela deve ser beeeeem velhinha, né?

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! kkkkkk eu mereço!

Emburrecimento confortável


Hoje venho fazer coro com um amigo extremamente inteligente: Umberto Conti. Admiro sua intelectualidade livre e sagaz.

Ontem, ele estava refletindo sobre como o trabalho emburrece.
Isso pode parecer, à primeira vista, conversa de preguiçoso. Mas, se pensarmos bem, ele tem razão. Justamente por ser, qualquer trabalho, necessariamente limitador. O tempo que se passa no trabalho, a energia física e intelectual gasta, a necessidade constante de especialização num tema cada vez mais específico... tudo isso tolhe a liberdade criativa, o conhecimento amplo. Por mais que nos tornemos especialistas num determinado tema, entramos cada vez mais no casulo confortável daquilo que dominamos bem. É neste sentido que o trabalho emburrece. No cerceio à amplitude do saber.

Acho que por isso estou tão feliz com minha atual compulsão pelos estudos, pelo conhecimento, pelo novo. Saí da zona de conforto. E tenho me descoberto um ser humano cada vez mais pensante, questionador, contestador, cada vez mais curiosa.

A questão é: o trabalho é necessário e gratificante, mas não basta. Fundamental é a busca constante pelo conhecimento.
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Todo mundo é igual

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eu amo essa música.
Ela diz muito.
Sobre nós.


Maravilhas da França

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Excelentes filmes franceses. Tô recomendando. Bons pra ver a dois, pois incitam discussões interessantíssimas. Mas eu vi sozinha e foi massa. Tomando sorvete e comendo chocolate. E travei monólogos interessantíssimos e intermináveis dentro do cinema, dentro do carro, dentro de mim. Eu sou uma ótima companhia!

- O Pecado de Hadewijch (Bruno Dumont), sobre o dilema de uma jovem candidata a noviça que se torna amiga de muçulmanos radicais.

- O Refúgio (François Ozon), sobre um jovem casal usuário de drogas. A moça se vê grávida e sozinha após a morte do namorado.

- As Múmias do Faraó (Luc Besson), sobre uma jornalista às voltas com múmias falantes em 1912.

Voilà!

domingo, 3 de outubro de 2010

Elegância não vem em cartilha

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Preciso desabafar.
Eu não deveria nem perder meu tempo comentando isso aqui, mas preciso desabafar.
Fui a um jantar na casa de um amigo, para celebrar o aniversário dele. Jantar chique, cardápio elaborado por um chef renomado, bebidas selecionadas. Lago Norte, nata da elite brasiliense. Coisa fina, para convidados idem. Até caviar eu experimentei - iguaria que, assumo, não me agradou aos olhos nem ao paladar.

Bom, fui colocada para sentar à mesa com um grupo de mulheres muito bonitas, bem vestidas e animadas. A maioria da minha idade, algumas pouca coisa mais velhas ou mais novas. Cumprimentei a todas e, durante o jantar, pude perceber que algumas já se conheciam, outras não. Mas todas falavam de suas vidas conjugais como se íntimas fossem. Eu estava calada, esperando um assunto mais interessante, mas demonstrava atenção olhando sempre para quem estava falando no momento.
De repente, uma delas se dirige a mim e pergunta:
- Você vem de uma família simples, né?
- Sim, venho. Como sabe?
- Porque você não sabe usar os talheres. Você usa o garfo com a mão direita. Isso não é elegante, você deveria usar o garfo na mão esquerda.

Todas as outras mulheres imediatamente olharam para as minhas mãos, para o meu vestido e para os meus sapatos. Nenhuma se preocupou em "disfarçar" o comentário desnecessário da distinta moça sentada à minha frente. Nenhuma perguntou sequer o meu nome. E todas começaram uma conversa sobre como foram muitíssimo bem educadas desde a mais tenra infância seguindo as mais nobres regras de etiqueta, como numa competição onde só poderia participar quem tivesse a carteirinha vip do clube da luluzinha bem nascida. E todas usavam o garfo na mão esquerda.

Eu apenas consegui responder:
- É, venho de uma família de hábitos simples sim, mas todos pessoas muito gentis.
Não consegui falar mais nada, pois minha garganta travou. Mas eu deveria ter emendado com um "- Obrigada por me constranger e expor na frente de todas aqui, dessa maneira tão educada. Na certa, vocês também aprenderam, desde o berço, a tratar as pessoas assim. Magnífica educação, parabéns."
Mas não falei mais nada, não consegui. Apenas terminei o meu prato enquanto era ignorada por aquelas belíssimas e bem-criadas mulheres, e tive tempo e estômago suficientes para continuar a ouvi-las falando em altíssimo e bom som sobre suas intimidades com seus maridos, namorados e amantes. Com direito a todos os detelhes escusos, palavras chulas e piadinhas depreciativas quanto ao desempenho de seus pares. Mais uma vez expondo e constrangendo pessoas que, desta vez, nem estavam ali para se manifestar a favor ou contra aquele circo de gargalhadas. Bons costumes, não?

Só terminei minha refeição porque "não é de bom tom" deixar comida no prato, mesmo com um nó na garganta. Engoli a seco e nem esperei a sobremesa (que devia estar divina): pedi licença, educadamente, e me retirei. Nenhuma delas sequer olhou para mim. Quanta educação! Mas continuavam todas usando o garfo com a mão esquerda, enquanto contavam seus "segredos" conjugais para todos ali presentes, aos palavrões.

Me dirigi a um grupinho de pessoas que estava em pé, tomando vinho, e fui muito bem recebida. Todos perguntaram meu nome, de onde eu conhecia o anfitrião, e conversamos por quase três horas sobre nossas profissões, nossos planos, cinema, música, política, educação de filhos, viagens. Que bom, achei os meus! Durante esse tempo todo, todos seguravam suas taças pelo copo, e não pela haste, inclusive eu.

É... elegância e etiqueta são coisas distintas. Muito distintas.
Que alívio.